Como a juventude pode interagir na defesa dos patrimônios dos municípios de Garopaba e Imbituba

História de Imbituba
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Imbituba tem origem na vila açoriana de Vila Nova de Santana, fundada em 1720, com a chegada dos primeiros imigrantes provenientes do arquipélago dos Açores. Em 1811, Vila Nova de Santana é elevada à freguesia de Laguna e, em 1911, distrito de Laguna. Após variar sua denominação entre Vila Nova, Imbituba e Henrique Lage, o distrito é desmembrado de Laguna e elevado à condição de município em 1958 sob o nome de Henrique Lage e, em 1959, passando a se chamar Imbituba.
Assim como em Garopaba, Imbituba também assume importância econômica a partir da instalação de uma armação baleeira em 1796, a quarta mais antiga do Brasil e a última a sair de operação. A pluralidade étinico-cultural de Imbituba torna-se mais complexa a partir da década de 1910, quando passa a fazer parte do império industrial de Henrique Lage e desenvolve as atividades ferroviárias e portuárias (MARTINS s.d.), fato que atrai mão de obra externa.
Desde 1884, com a inauguração da Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina, passou a ligar as minas de Lauro Müller à região portuária, o porto de Imbituba serviu como escoadouro do carvão mineral tanto para o mercado brasileiro quanto para o exterior. Antes da concessão ao empreendedor Henrique Lage, o porto estava sendo administrado pelo capital inglês, que explorava também a mineração. A baixa qualidade do carvão catarinense, entretanto, incentivou os ingleses a abandonar a mineração no sul catarinense e, consecutivamente, relegou o porto de Imbituba ao abandono (GOULART FILHO, 2013). Esta situação de abandono perdurou até a I Guerra Mundial, momento em que a necessidade de recursos energéticos reativa a mineração de Santa Catarina.
Em 1919 o industrial Henrique Lage obteve a concessão para exploração do porto de Imbituba. Além de ampliar e equipar o porto, Henrique Lage promoveu uma série de investimentos que criaram infraestrutura para seus negócios em Imbituba e introduziu na região um projeto de modernização urbana da região central. Como era também proprietário de uma Companhia de Navegação Costeira, transformou
transformou Imbituba em escala dos seus navios com destino a Porto Alegre e ao Uruguai. O desembarque de passageiros resultou na construção do primeiro hotel, em 1920. Entre 1920 e 1941, ano da morte de Henrique Lage, foram construídos com seu capital a indústria Cerâmica Imbituba, a Companhia Doca de Imbituba, a Granja Henrique Lage, a usina termelétrica para fornecimento de energia elétrica ao porto e aos seus negócios e o traçado do núcleo urbano de Imbituba, entre outras obras.
Atualmente Imbituba referencia Henrique Lage como seu fundador, homenageando a si e aos seus colaboradores diretos com os nomes de logradouros e edifícios públicos. É importante ressaltar que o projeto implementado por Lage na cidade, tendo como centro a atividade portuária, não dialogou com a cultura de base açoriana das primeiras vilas (Vila Nova e Vila Mirim), tratando-se assim de uma proposta de desenvolvimento exógena. O desenvolvimento econômico de Imbituba passou a depender do porto que exporta o carvão que era explorado no sul do estado.
Esta dependência de cidade em relação ao porto, que por sua vez dependia do carvão, fez com que a economia de Imbituba oscilasse de acordo as políticas de incentivo à indústria carvoeira, como no caso da política de Getúlio Vargas, que em 1931 estabeleceu uma cota de obrigatoriedade de consumo do carvão brasileiro de 10%, em 1937 elevada para 20% (GOULART FILHO, 3013). No final da década de 1980, com a abertura da economia brasileira à concorrência internacional promovida no governo de Fernando Collor de Mello, a exportação carvoeira declina e chega a zero em 1990.
Com o objetivo de aproveitar os rejeitos do carvão, em 1969, foi fundada em Imbituba a Indústria Carboquímica Catarinense (ICC), uma estatal pertencente ao Grupo Petrofértil, que produziu insumos para indústria de fertilizantes a partir do enxofre extraído da pirita carbonosa (rejeito do carvão), derivando o ácido sulfúrico somado ao ácido fosfórico. A construção da ICC, inaugurada em 1979, fazia parte dos objetivos do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND). Para descarregar a rocha fosfática, matéria-prima para a produção do ácido fosfórico, e para escoar toda a produção de ácido sulfúrico e fosfórico, o porto de Imbituba foi ampliado. A indústria operou apenas entre 1979 e 1992, sendo definitivamente extinta em 1994, e não promoveu o desenvolvimento social que prometeu para a cidade. Os postos de trabalho que abriu para a população local eram de baixo valor agregado e seu fechamento legou significativos passivos ambientais e sociais.
(...) logo no início de seu funcionamento, a maioria da mão de obra utilizada na indústria vinha de cidades vizinhas, como técnicos, engenheiros, equipe mecânica entre outros, já que a cidade local não possuía “mão de obra qualificada”, o que gerou certa frustração entre os moradores. Os que conseguiram se estabelecer como funcionários entraram através de concursos, recebendo o treinamento teórico/prático durante os três primeiros meses de trabalho, ou em serviços que não exigissem conhecimentos técnicos. Vale ressaltar que não houve nenhum incentivo para que fossem capacitados trabalhadores da cidade antes do início das operações da ICC (...).(SOUZA, 2017, p.102).
(...) a cidade foi marcada pela “maldição da fumaça vermelha”, denominada assim, pois logo no início de seus trabalhos não podia contar também com a chaminé, principal responsável pela filtragem dos gases. A cidade acordava todos os dias coberta por uma fuligem grossa de pó vermelho, consequência da primeira etapa do beneficiamento da pirita carbonosa, gerando como resíduo o óxido de ferro, que principalmente em dias de vento nordeste, espalhava-se por toda a região central. (SOUZA, 2007, p. 104).
Ainda hoje é possível ver as montanhas de óxido de ferro dispostas em área próxima ao porto e o espólio da ICC em péssimo estado de conservação. Atualmente indústrias estão beneficiando parte do resíduo para a produção de gesso. Importante ressaltar, novamente, que a ICC foi imposta a partir do Estado para o município a partir de um plano de desenvolvimento nacional, visando o aproveitamento do porto. Após o fechamento da ICC, o governo brasileiro cria na cidade uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE), que até o momento não se efetivou.
A cidade de Imbituba sempre teve um estreita relação com o porto e apostava na expectativa de investimentos externos. Primeiro foi a tentativa de construção da Siderúrgica Santa Catarina S.A. (Sidesc), que se transformou em ICC. A ICC encerrou suas atividades em 1994 e deixou um grande passivo ambiental de mais de 4.300.000 t. de gesso e 1.400.000 t. de óxido de ferro. Em seguida foi o projeto Sidersul, que, entre 1979 e 1982 , consumiu mais de US$ 24.000.000,00 do governos estadual e nada foi realizado. A mais recente espera foi a Zona de Processamento de Exportação (ZPE), criada em 1995 com objetivo de atrair indústrias e integrá-las ao porto. No entanto, na reforma administrativa de 2005 do governo estadual, a ZPE foi extinta. (GOULART FILHO, 2013, p.93).
Atualmente o porto vem passando por reestruturações que diversificaram suas operações, operando navios graneleiros e cargueiros, reativando sua importância econômica para Imbituba.
(...) la principal actividad económica de esto municipio gira en torno de su puerto, que actualmente es el segundo mas grande del estado y representa una fuente importante de empleo. También depende de la industria, del comercio y del turismo, este último en crecimiento. ( SPERB, SERVA e FIRMINO, 2013, p. 47)
Assim como observado em Garopaba, as alterações da paisagem e o crescimento populacional em Imbituba acarretam na atrofia das atividades econômicas tradicionais e impactam na identidade local. Um exemplo é a pesca tradicional na Lagoa de Ibiraquera. Segundo Sperb, Serva e Firmino (2013), em 1992, 800 famílias viviam da pesca tradicional nesta lagoa, número que cai para 30 em 2003.